Dentre os fatores formativos da cultura brasileira, a superstição e o misticismo têm sido reconhecidos como marcantes. Desde as simpatias, passando pelas crendices e incluindo o apego ao mágico e ao sobrenatural, o povo mostra um grande interesse palo lado não racional da realidade.
Quem não ouviu falar do Saci-pererê, da Mula-sem-cabeça? Quem não já deu olhada na coluna do horóscopo de um jornal ou de uma revista popular? Quem não se espanta com o crescimento perturbador dos movimentos de aparência evangélica, mas que exploram a fundo esse componente cultural do brasileiro? E a espantosa multiplicação Umbanda, religiosidade sincretista de prática altamente brasileira?
Há indícios, inclusive, de que esse direcionamento do povo para o lado místico tem aumentado e vai crescer até o fim do século, penetrando todas as classes sociais.
O QUE ISSO SIGNIFICA? Como deve o cristão posicionar-se de tão deslavado endeusamento da magia e da superstição?
1. Devemos ompreender e respeitar o sentimento do povo - A fim de que possamos posicionar-nos como cristãos, é necessário que entendamos o fenômeno do misticismo universal. O misticismo é evidência de que o homem possui um sentimento religioso desde que nasce e da inadequadas respostas que ele da essa motivação inteira. Desde que se afastou de Deus, perdendo o contato com seu criador, o homem guia-se pelo escuro espiritual, procurando dar vazão ao seu sentimento e fé. Temos que separar, portanto, compreensão de fenômeno, o sentimento básico que o origina,das formas pelas quais se expressa. Um posicionamento cristão crítico deve, necessariamente, não condenar ou ridicularizar ignorante das crendices populares, mas identificar nessas pessoas um a sincera busca de satisfação de suas necessidades espirituais primárias.
É evidente a inadequação do conteúdo do misticismo popular, das crendices, e das superstições, à luz da Bíblia, da ciência e até mesmo do bom senso.
2. O conteúdo do misticismo popular é um traço cultiral - Israel absorveu, pela convivência, as mazelas religiosas dos vizinhos: "Ora, o rei Salomão amou, muito mulheres estrangeiras, além da filha do faraó: moabitas, amonitas, edonitas, sidônia e hetéias das nações de que o Senhor dissera aos filhos de Israel: Não ireis para elas, nem elas virão para voz; doutra maneira perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se apegou Salomão, levado pelo amor (...) Salomão seguiu a Astarote, deus dos sidônios e Milcom, abominação dos amonitas. Assim fez Salomão o que era mau aos olhos do Senhor, e não perseverou em o seguir, como fizera Davi, seu pai (...) Pelo que o Senhor se indignou contra Salomão, porquanto o Seu coração se desviara do Senhor Deus de Israel, o qual duas vezes lhe aparecera (...) (1°Rs 11.1-10).
Os profetas se levantaram para condenar a busca, pelos israelitas, de fontes de saciação espiritual que fossem Deus: "O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe dá respostas, porque o espírito de luxúria os enganou, e eles, prostituindo-se, abandonam o seu Deus (...)" (Os 4.12,13). É interessante observar a força dos processos aculturativos nas expressões místicas do povo. Apesar de ter uma revelação inigualável, de um Deus único, justo e bom, que o escolhera como nação, o povo de Israel logo se prostituiu com outros deuses, práticas e superstições: "Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os feiticeiros, que chilreiam e murmuram, respondei: Acaso não consultará um povo a seu Deus? Acaso a favor dos vivos consultará os mortos?" (Is 8.19).
Deus condenou enfaticamente toda e qualquer expressão do sentimento religioso que fosse a sua adoração: "Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos (...) Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém, quando a ti, o Senhor teu Deus não te permitiu tal coisa (Dt 18.9-14). Mas, apesar dessa proibição, Israel aceitou e incorporou em seu culto as práticas e crendices das nações vizinhas.
Todas as culturas, filosóficas, produziram conteúdos místicos apartir da mistura de pessoas entra tradições diferentes. O pano de fundo universal é o animismo, crença de que os objetos e seres da natureza são todos dotados de espíritos. A experiência de Paulo com Atenas, narrada em atos 17.16-34, evidencia a força do processo sincretista e como os conteúdos místicos passam através das culturas.
Não poderia ser diferente a realidade brasileira. O misticismo popular, expressão do sentimento religioso inato e ingênuo de nossa gente, foi buscar nas culturas que deram origem à nossa nacionalidade os conteúdos necessários à construção do imaginário popular.
3. As origens do conteúdo do misticismo brasileiro - Divisamos quatro grandes componentes na formação cultural do brasileiro que contribuem para a seleção de conteúdo:o catolicismo português, as religiões africanas, a influência dos índios brasileiros e o espiritismos.
a. O catolicismo português - A religião implantada no Brasil por nossos colonizadores foi um catolicismo romano, profundamente místico, centrada no culto aos santos e à Virgem Maria. Sem conteúdo doutrinário, levou a uma prática de fé baseada em tradições familiares e sociais, a padroeira e festas, com uma tendência à facilidade para misturar-se com outros conteúdos.
Além disso, o catolicismo trazido de Portugal para o Brasil já veio alicerçado por influências, principalmente pela magia européia. O caráter secular das festas católicas acabaram por permitir a descaracterização da sua suposta fé cristã e a mistura com toda sorte de superstições. O culto aos santos, como intermediário entre o homem e Deus, nada mais é do que um politeísmo disfarçado, facilitando a identificação dos santos católicos com as identidades africanas e indígenas. O pobre povo brasileiro viu-se logo, vítima das mais terríveis influências religiosas, construindo,então, para expressar o seu sentimento religioso, um falso universo místico que lhe servisse de apoio.
b. As religiões africanas - A escravidão negra, que caracterizou a formação social e econômica do Brasil colônia e da época imperial, é o segundo componente de nosso universo místico. Os escravos trazidos para o Brasil, dos grupos sudaneses e bantus, possuíam uma religião relativamente sistematizada, onde o conceito de Deus era distante e incessível, exigindo a intermediação de guias espirituais ou orixás que solucionassem os anseios do cotidiano.
Levados para as fazendas, os escravos tiveram uma permissão estreita de manter seu culto, e se sentiram obrigados a camuflá-lo com o verniz do catolicismo. Deviam participar das festas em honra ao santo padroeiro da fazenda. Essa situação levou a misturas entre as suas religiões, pois para os africanos os santos católicos eram muito parecidos com os seus orixás, e logo se identificaram. Logo Ogum passou a ser São Jorge, e assim ainda é hoje...
c. A influência indígena - Embora a cultura dos índios brasileiros tenha sido destruído no processo de colonização, ampla miscigenação com a raça branca e com a negra que resultou no caboclo contribuiu, sem sombra de dúvida, para o misticismo popular. As lendas, crendices e o universo religioso dos índios era marcado por uma cosmovisão eminentemente animista, onde os espíritos tudo permeavam. Os mortos e os vivos mantinham uma comunhão, e o processo decisório era todo baseado no presságio e adivinhações.Elementos como tupã, o Saci-pererê, o Curupira e o Caipora foram incorporados ao folclore brasileiros através dos índios. A figura do pagé o mágico da tribo, confundia a religião com a medicina, abrindo caminho para a crendice dos curadores e das benzedeiras, tão comuns no interior do brasil. Todos esses elementos, mesmo quando totalmente retirados de seu contexto social, contribuíam para formar no povo brasileiro a visão mística e supersticiosa.
d. O espiritismo kardecista - A dependência cultural da velha Europa fez com que a intelectualidade brasileira, no século XIX, buscasse lá também a sua formação espiritual. Principalmente a cultura francesa exerceu forte influêcia na formação do Brasil império, sendo o francês a língua chique da época.
Allan kardec era o pseudônimo de um professor francês que, psicografando, segundo cria, um poeta celta, sistematizou o espiritismo dentro do contexto europeu. Intelectuais brasileiros, muitos dos quais estudaram na frança, trouxeram para o Brasil os ensinos de Kardec e difundiram a doutrina espírita.
O espiritismo colocou Deus como incessível, devendo a prática religiosa centrase na comunicação com os mortos. A reencarnação foi introduzida como explicação para a dor e para o sofrimento humano. Os espíritas desencarnados, os mortos, segundo espiritismo, podem entrar em contato com espíritos encarnados, os vivos, através dos médiuns. Essa doutrina é bem parecida com o animismo das religiões africanas das religiões indígenas e do panteão de santos do catolicismo. O resultado foi uma mistura completa, resultando em múltiplas expressões religiosas, como a Umbanda e o Candomblé, as curandeiras e benzedeiras.
4. A expressão demoníaca - Á luz da Palavra de Deus, todo esse conteúdo é de origem satânica. Usando o termo sentimento religioso do povo, inato no homem, a cultura brasileira desenvolveu todo esse conteúdo idolátrico e místico que não se coaduna com existência de um Deus vivo, santo e bom. Sabemos que os espíritos que se manifestam nas sessões não são o de mortos, mas de demônios. A igreja deve afirma o caráter maligno dessas crenças, só tomarem o lugar do Deus vivo na alma humana.
CONCLUSÃO
1. O homem é naturalmente religioso (Gn 1.26,27). A imagem e semelhança de Deus, com a queda do homem, embora afetadas, resultam numa busca religiosa para preencher o vazio de Deus.
2. Sem Cristo, o homem enche o seu mundo religioso de conteúdos falsos, tirados da cultura que o envolve e de suas origens (Os 4.12,13).
3. As expressões animistas são demoníacas, levando a uma degradação ética e moral do povo e á preservação da ignorância (1Jo 4.2-4).
4. O povo brasileiro necessita ser liberto das trevas da ignorância espiritual. Proclamemos Jesus Cristo! (Is 61.1).